quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Drama no Cemitério de Lhanguene

Email de Clemente Intsamuele que me foi enviado com pedido dem publicação neste blogue: "No cemitério de Lhanguene, localizado na cidade de Maputo, município de Maputo, há falta de ordem, cada um faz e desfaz, não há chefe nem subordinado, se existe de facto algum chefe não se faz sentir, razão pela qual os ditos coveiros só fazem o seu trabalho quando subordinados pelas famílias enlutadadas.
No meu entender e segundo o dicionário da língua portuguesa, coveiro significa indivíduo que abre as covas no cemitério e dá sepultura aos cadáverws, mas o que tem vindo a acontecer naquele cemitério é que vemos indivíduos que vestem o uniforme de coveiros e quando solicitados para sepultar alguém dizem não serem coveiros, outros dizem que não foram eles que abriram a cova e alguns ainda negam e emprestam a pá a quem os solicita para sepultar o seu ente querido, esta é uma realidade que vivi aquando do funeral de um vizinho meu, no passado dia treze de Janeiro.
Na verdade eram cerca de três famílias que já haviam terminado de realizar as orações e ficaram tanto tempo à espera daqueles homens cuja função é sepultar cadáveres. De facto ,os homens lá estavam presentes mas refutavam realizar os enterros porque estavam a fazer biscatos, o que eles chamam de “pedidos”. Depois de tantas voltas com cada justificação de coveiros, juntei-me a outras pessoas que tínhamos um interresse comum, e assim formamos um grupo de interesse, dirigimo-nos aos escritórios, onde fomos indicados um fiscal de nome Manuel que foi ver a situação no terreno, indicou alguns coveiros para realizarem trabalhos, embora tenham-se mostrado resistentes à palavra do seu chefe, mas já que chefe é chefe prestaram um mau servico de tal forma que os coveiros foram arrancados as pás e os jovens que por lá estavam fizeram o trabalho.
Julgo que precisamos de reflectir quem de facto quer exercer esta tarefa de coveiro. Porquê da existência de pedidos se eles são pagos pelo trabalho que eles fazem, não se trata de nenhum favor mas sim de um direito a este serviço. Chega de subornos e lutemos contra a corrupção em Moçambique."

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Desdém versus racismo

Do Joaquim Nhampoca, licenciado em sociologia e pós-graduado em saúde pública, recebi, com pedido de publicação, um texto com o título em epígrafe, que transcrevo na íntegra:
"Pretendo com a discussão a seguir fazer uma abordagem partindo do significado das palavras racismo e desdém. Esta discussão pode parecer bastante trivial, mesquinha ou retrógrada, tendo em conta o tempo e o discurso sobre o racismo. Seja como for, nada pode contribuir para que não possa apresentar aqui a minha opinião ou análise, tendo como base uma recente viagem para o exterior em que mais uma vez senti na carne e na pele que as pessoas não são iguais. Não são iguais sob o ponto de vista anatómico mas supõe-se que sejam iguais sob o ponto de vista de todas serem seres humanos com cabeça, tronco e membros como aprendi em biologia. Também aprendi sobre a existência de várias raças, o que não pode ser motivo para descriminação, desprezo, desdém e outras coisas que não me ocorrem neste momento.
Preto e branco são cores, portanto, pertencem a mesma categoria. A diferença é que uma cor é preta e a outra é branca. A mesma analogia pode ser estabelecida entre o branco, quiçá outras mundi-visões.
A palavra desdém significa, segundo o Dicionário Universal de Língua Portuguesa (2001), desprezo altivo ou então orgulho. Portanto, este desprezo e orgulho no contexto da abordagem aqui apresentada é fruto do espírito de superioridade movido pela raça a razão do racismo, uma doutrina e atitude baseadas na crença na superioridade de uma raça ou várias raças sobre as outras, sem fundamento científico (Dicionário de Economia e Ciências Sociais, 2001).
O racismo é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras. Onde existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditárias, e determinados traços de carácter e inteligência ou manifestações culturais, são superiores a outros. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré concebidas onde a principal função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres humanos, em que alguns acreditam ser superiores aos outros de acordo com sua matriz racial. A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade (www.wikipedia.org).
O legado do passado colonial marcado pela superioridade do branco em relação ao negro, os estudos antropológicos sobre os negros espalhados pelo mundo fora, os sistemas como o apartheid (que o digam os sul africanos), a convivência entre negros e brancos no Brasil (basta olhar para os papéis assumidos pelos negros nas várias novelas brasileiras que representam o dia a dia da convivência social no Brasil), é tudo isso, apenas, uma amostra do real de um mundo que se pretende justo e igualitário.
Mas como é que a coisa começa? Ou para ser mais explícito porquê a motivação em escrever sobre este assunto? Tudo começa abordo do voo da SA 207 que fazia Joanesburgo Washington com escala em Dakar-Senegal. Não desconhecendo as regras de tomar os lugar no avião dirigi-me ao assento 48 A, segundo o meu cartão de embarque, que não vi mal. Mas, eis que minutinhos depois sou confrontado por uma senhora de raça branca (eu negro), dirigindo-se a mim nas seguintes palavras: is your boarding pass 48 A? (o seu cartão é 48 A?) ao que respondi yes (sim) de seguida a mesma se dirige a mim dizendo I wanted to know if I were in the right place (queria saber se estava no lugar correcto). Estas palavras são tão simples, mas um bom analista ou dependendo do ouvido que ouve e os olhos que vêem, podem ter várias interpretações:
Primeiro, pensar que a senhora realmente estava interessada em saber se estava no lugar correcto, pese embora ela tivesse em mão o cartão de embarque;
Segundo, pensar que a senhora tivesse pensado que eu (o negro) estava enganado e não soubesse que no avião os lugares são tomados em função dos cartões de embarque;
Terceiro, que ela tivesse tido um choque ao descobrir que a cadeira ao seu lado estava um negro. Provavelmente, nunca tinha sonhado ou imaginado sentar, ao lado de um negro, durante uma viagem!
Por último, o desdém ou desprezo pelo negro, fruto de uma construção social da imagem do negro face ao branco (não conheço a nacionalidade dela, se for Sul africana, a situação se complica se recorrermos a um passado histórico). Tudo isso me levou a pensar na exclusão e discriminação social vivida pelos negros americanos nos espaços públicos, transportes, posto de trabalho, etc. Que o digam os escritos e reivindicações da Maya Angelou e de Martin Luther King.
O sentimento de repulsa, desdém ou então racismo parecia estar a manifestar-se na senhora minha vizinha do lado direito (por minutinhos), por vezes parecia ter sarna. Realmente não aguentou e, depois das primeiras instruções de segurança, apenas vi a senhora a sair, feito uma fugitiva. Recolheu os seus pertences até os que estavam na gaveta e escapuliu-se sem no mínimo dizer adeus (até esqueceu-se, no bolso da cadeira, dos chips que estava comendo). Afinal, tinha identificado um lugar não ocupado, provavelmente merecido, comparado a minha companhia.
Acredito que como eu, muitos de vocês já passaram por uma situação idêntica, se não muitas vezes. Eu pergunto, é este mundo onde podemos cantar a justiça social, igualdade, dignidade, respeito, ajuda mútua e tantas outras coisas que almejamos e discutimos lado a lado nos vários encontros, nacionais, regionais e internacionais? Ou neste mundo, onde alguns entendidos na matéria dizem que estamos de passagem, vive-se mentindo uns aos outros ou manipulando a identidade? Mas é muita pena e, não é difícil de perceber porquê em situações diametralmente opostas não me admira que esta senhora, a do episódio, venha ser um grande parceiro de actividade em Moçambique (assim vai o mundo e as relações interpessoais, se não entre Estados).
A poetisa portuguesa Florbela Espanca, num dos seus poemas escreve sobre o desdém e penso que é uma análise muito minuciosa pode permitir o enquadramento do texto nesta discussão:

Desdém
Andas dum lado pro outro
Pela rua passeando;
Finges que não queres ver
Mas sempre me vais olhando.
É um olhar fugidio,
Olhar que dura um instante,
Mas deixa um rasto de estrelas
O doce olhar saltitante…
É esse rasto bendito
Que atraiçoa o teu olhar,
Pois é tão leve e fugaz
Que eu nem o sinto passar!
Quem tem uns olhos assim
E quer fingir o desdém,
Não pode nem um instante
Olhar os olhos d’alguém…
Por isso vai caminhando…
E se queres a muita gente
Demonstrar que me desprezas
Olha os meus olhos de frente!…
Florbela Espanca - O Livro D’Ele, poemas (in www.prahoje.com.br)
Num mundo tão globalizado, onde o global se torna local, onde o tempo, espaço e as relações sociais se comprimem na palma da mão, parece-me que já não faz sentido o sentimento de desdém e repulsa ou então superioridade. Como diz Florbela Espanca, Andas dum lado pro outro//Pela rua passeando//Finges que não queres ver//Mas sempre me vais olhando.
Apesar das nossas diferenças, somos todos irmãos (assim diz a Bíblia).

Bibliografia
Dicionário de Economia e Ciências Sociais (2001), Porto Editora, Lisboa
Dicionário Universal de Língua Portuguesa (2001), 3ª edição, Moçambique editora Lda, Maputo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Racismo
http://www.prahoje.com.br/florbela

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Leonor Piúza

"Caro Professor
Sinto-me na necessidade de através do vosso blog felicitar a atleta moçambicana Leonor Piúza, por ter alcançado o primeiro lugar na prova de 800 metros (2:02:83) e consequentemente a primeira medalha de ouro para Moçambique, nos presentes Jogos Africanos que estão a ter lugar na capital argelina, Argel.
Pelo feito, está ela de parabéns, assim como a Cooperação Francesa, por ter acreditado nas capacidades dela e lhe ter proporcionado uma bolsa de estudo e treinamento ao mais alto nível, na Ilha da Reunião.
Nas próximas horas, ainda far-lhei chegar um novo texto sobre atletismo e os campeonatos nacionais marcados para cidade da Beira (de 20 a 20 de Julho 2007).
Parabéns Lolo!!!"

Mechisso Gerson

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A draga Rovuma na Beira

Novo texto de Mechisso Gerson:

"(...) O Presidente da República inaugura a draga baptizada com o nome de Eng° Alcântara Santos, que já se encontra ancorada no Porto da Beira. A draga em alusão foi recebida da comunidade japonesa da cidade de Kansai para o governo deMoçambique - EMODRAGA. Se bem que vai minimizar o crónico problema de assoreamento no canal que dá acesso ao Porto da Beira. Actualmente a entrada de navios está condicionada pelo nível de marés. Nota-se que a presente draga é em substituição da antiga "Rovuma", que afundou recentemente no canal que acesso ao Porto da Beira (...)".
Foi assim como o Diario de Moçambique de 6 de julho de 2007 fez referência à inaguração da nova draga atribuída em memória do Eng° e antigo Ministro dos Transportes de Moçambique, Luis Maria de Alcântara Santos,vítima do trágico acidente de Mbuzini.
Ora a nossa sociedade habituou-nos a ter grandes acontecimentos que, volta e meia, transformam-se em pequenas coisas, ou mesmo passam para o esquecimento de alguns. Outros ainda, tentam "tapar o sol com peneiras".
Uma coisas têm a ver com as cheias, o paiol, os incêndios, a crimininalidade, o problema de roubo de lâmpadas no aeroporto,etc. Todas elas com justificações de todo tipo.
Os "patrões" da EMODRAGA-Empresa Moçambicana de Dragagem, dão-se por satisfeitos por esta doação, mas é obrigação de EMODRAGA retirar do canal de entrada do Porto da Beira a draga ROVUMA, afundada a cerca de 100 metros do porto há mais de dois meses, uma vez mais por negligência, que continua lá e sem data de retirada.
Enfim, triste é como rapidamente nos esquecemos desses acontecimentos que deveriam servir para pensar como evitar e/ou minimizar os prejuízos nos futuros acidentes, e não servir-se dela para sairmos ao mundo, como o professor Serra bem disse, com " Tou pidir patrão!" Até quando pedintes???"

terça-feira, 10 de julho de 2007

Gerson critica mentalidade terceiro-mundista a propósito da Dama do Bling

Novo texto de Gerson:

"Mentalidade de terceiro-mundistas
Por Mechisso Gerson

É interessante como há pessoas, neste país, que se interessam e se aproveitam de ninharias (mesquinhices), para alcançarem os seus intentos pouco claros.
Devíamos nos preocupar mais com os problemas do nosso país (a corrupção generalizada, a criminalidade por todos os cantos, as eleições, a saúde, a educação,etc), no lugar de criticar a maneira como a "nossa" DAMA DO BLING se apresenta em palco!!!
O mal das sociedades em desenvolvimento é que acham-se todos pensantes (no seu verdadeiro sentido)!
O país necessita, de facto, de pessoas que pensam, pessoas com ideias claras sobre o que desejam desenvolver. Pois estes constituirão a mais-valia para o desenvolvimento do país.
A maneira de a DAMA DO BLING se apresentar em palco (que esteje bem, claro, em PALCO), não é um assunto de debate nacional!
Abrimos as portas do país ao mundo, foi, penso, para aproveitarmos do que eles têm de bom (o conceito de o que é BOM, é extenso e dicutível). É preciso ensinar a nossa juventude a Pensar! A viver em sociedade, sem alienar a sua cultura alheia.
O caos está instalado. Levamos uma vida apressada, preocupados com ganhos económicos, deixando para trás a educação do filhos que nos mesmos geramos. Enfim, uma mentalidade de terceiro-mundistas."

quarta-feira, 4 de julho de 2007

O duelo das cores

Da leitora Esfinge, recebi o seguinte e-mail:
"Hoje, num rasgo de ousadia, resolvi escrever para este espaço novo que me permite em poucas palavras colocar o meu protesto fora da alma.
Identifico-me como Esfinge e vivo na Beira quase desde que me conheço, amo as suas rotundas e os contrastes que esta bela cidade enquadra. O que sempre gostei foi de apreciar a lufa-lufa das pessoas nas ruas do comércio. O entra e sai de gente falando várias línguas e gritando suas necessidades, o barulho dos vendedores ambulantes que se perdem nos passeios disputando lugares com os logistas, as cores vivas das lojas da Baixa e do Maquinino, as alegres tascas Goto com nomes populares e criativos, as barracas coloridas e cheias de reclames das mangueiras (zona da Manga), enfim uma diversidade de tons e aromas.
Entretanto, um estranho fenómeno tem vindo a acontecer, para atrapalhar essa rotina tão minha, no trajecto entre o trabalho e a casa, noto este colorido sumir a cada dia que passa, os rosas, vermelhos, lilases, laranjas e outras cores desaparecem dando lugar a um duelo de apenas três cores que se sobrepõem a todas as outras que se deixam anular.
O “azul vodacom” e o “amarelo e verde Mcel” tomam conta de tudo...
Os logistas já não pintam as suas lojas nas cores habituais... Tudo está azul, amarelo e verde.
Os painéis publicitários já não apresentam novidades coloridas e bem dispostas... Tudo está amarelo, verde e azul.
Lojas, barracas, muros das praias, a muralha, as pensoes... Tudo azul, amarelo e verde.
O que foi feito do arco-íris anterior? Valerá a pena sair de casa e saber que mesmo de olhos fechados a Beira agora tem cor determinada?
E pensar que comemoramos este ano o centenário da cidade, melhor... da cidade azul, verde e amarela..."

O duelo das cores

Uma leitora postará aqui nas próximas horas um texto sobre a luta de cores na cidade da Beira entre as duas provedoras de telefonia móvel do país: o azul da Vodacom e o amarelo da Mcel, numa cidade onde as cores somem a cada dia. Aguardem.